Madrugada, Maria,
lhe peguei na estação de mala na mão,
uma expressão de extra-terrestre no rosto de quem vai para São Paulo.
Burburinho de meio-dia na meia-noite dos forasteiros e dos desertores,
e você lá, Maria, com essa cara de lua cheia de sonhos.
Mala na mão; não quis pousá-la no chão imundo de cigarros e cuspidos.
Não quis olhar o mendigo enrolado em jornais. Circunspecta esperava o ônibus
da madrugada, que ia lhe levar para São Paulo.
Gente que chega e que parte, o bar da estação vive do café-com-leite
e do pão-com-manteiga que sustentam os forasteiros e os desertores.
E os desertores que voltam um dia,
quase feito forasteiros, Maria.
O Ônibus da Madrugada
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