Skip to content

Quando Nos Encontrarmos…

Para Paola, agosto de 1988
Deixa eu espalhar no chão a pele de urso
para nós duas. Sentar ali bem juntas na escuridão da sala,
e toda vez em que, acanhadas, nos sentirmos nuas,
fitar o fogo que crepita e estala.

Vamos ficar caladas quando não tivermos nada
a dizer. Vamos cometer essa ousadia,
a de nem sempre ter que responder. E toda vez em que nos tentar a farsa,
fitar o fogo que nos aquece a face fria.

Não há nada de devastador ou doloroso
na verdadeira sintonia. Nada de obsceno, ou perigoso
na mais rendida intimidade. Tu me sabendo e eu a ti,
onde há nisso motivo para vergonha ou nojo?

Tu me sabendo e eu a ti — o que perdestes?
O que perdi? De que maneira nos tornamos fracas —
de que maneira se enfraquece aquele que dá de si?
Fiquemos aqui as duas, fitando o fogo que respira e alastra.

Published inPortuguês
© 2025 Lux Tremula—poems by Lydia Duprat · About · Privacy