Skip to content

O Ônibus da Madrugada

Madrugada, Maria,
lhe peguei na estação de mala na mão,
uma expressão de extra-terrestre no rosto de quem vai para São Paulo.
Burburinho de meio-dia na meia-noite dos forasteiros e dos desertores,
e você lá, Maria, com essa cara de lua cheia de sonhos.

Mala na mão; não quis pousá-la no chão imundo de cigarros e cuspidos.
Não quis olhar o mendigo enrolado em jornais. Circunspecta esperava o ônibus
da madrugada, que ia lhe levar para São Paulo.
Gente que chega e que parte, o bar da estação vive do café-com-leite
e do pão-com-manteiga que sustentam os forasteiros e os desertores.

E os desertores que voltam um dia,
quase feito forasteiros, Maria.

Published inPortuguês
© 2025 Lux Tremula—poems by Lydia Duprat · About · Privacy